Abril de 2023 eu visitei o Museu do Van Gogh em Amsterdam.
Bastou apenas alguns minutos zanzando dentro do prédio de três ou quatro andares, não lembro muito bem, pra começar a me apaixonar pela obsessão do Van Gogh pela arte, pela história de suas obras e pelas suas pinturas.
Ao fim da visita a emoção era tamanha que deixou em mim um sentimento ambíguo: por um lado a tristeza e estranheza por ter perdido tanto tempo de vida sem conhecer essa emoção proporcionada pelo simples fato de viajar apenas ao observar uma pintura. Mas por outro lado, uma felicidade incontida por, finalmente, entender como a paixão pela arte pode ser avassaladora.
Veja você mesmo se não se emociona ao ver, mesmo por fotos, algumas das obras de Van Gogh em diferentes épocas da vida dele:
Agora pronto. Desde então, Museus de Arte são paradas obrigatórias em viagens e disputam lado a lado com museus de história pelo lugar de destaque do passeio do dia.
Lembro que fiquei tão abalada - positivamente - pela arte que assim que cheguei em casa comprei telas, tintas e pincéis. Não tinha mais volta, estava decidida a ser uma pintora de sucesso.
Tudo parecia fácil até eu fazer minha primeira grande obra de arte.
Fiz meu primeiro quadro à mão livre.
Ainda inspirada pela Holanda que havia recém conhecido, fiz um buquê de três tulipas. Desenhei as flores à mão e depois pintei.
Ficou uma bela bosta.
As cores estavam estranhas, o desenho perdeu o charme porque nada sabia eu de jogo de sombras e luzes. Pouco sabia sobre misturar as tintas, e o trabalho final ficou bem fiel ao que eu era: uma iniciante emocionada, sem noção e sem direcionamento algum.
Acontece que o tempo passou…
Parêntesis aqui: eu sei que você está esperando que eu diga que eu treinei muito, estudei, me aperfeiçoei e hoje, quase um ano depois, após pintar dezenas de quadros estou bem melhor. Pois é, lamento informar mas nada disso aconteceu.
Depois de entender que não era uma gênia com talento inato para a arte de pintar, eu simplesmente deixei de lado as tintas, os quadros e tudo mais e foquei em outras coisas.
Peguei os materiais que comprei e aquela emoção que pairava no ar quando falava, lia e pensava em pintar e guardei no quartinho da bagunça. E assim, deixei a vida acontecer.
Até que um mês atrás, em janeiro de 2024, enquanto conversava com uma colega de trabalho sobre isso, a chama foi reacesa por conta de uma simples dica dela: “Por que você não assiste a tutoriais no estilo ‘pinte comigo’ no YouTube?”. E eu me peguei pensando: “E por que não???”
E foi assim que voltei a pintar.
Resgatei as tintas, as telas e os pincéis do quartinho da bagunça e apertei play no primeiro vídeo. A cada pincelada que dava sentia a emoção Van Goghniana - que estava trancada dentro de mim - dar o ar da graça. E não é que a bonita estava em pleno vapor no momento que eu finalizei meu primeiro quadro.
A primeira tentativa foi um gatinho na janela olhando a chuva. Segui o passo a passo no vídeo e deu super certo. Ficou lindo! Nem eu acreditei quando finalizei: Isso é iniciante? Uau!!
Meu segundo quadro foi um pouco mais no estilo iniciante ousada. Tem natureza, luz, sombra e técnicas. Finalizei e mais uma vez: Uau! Tô podendo!
E sabe que sinto que essa nova temporada do Andi Pintora está bem divertida.
Estou curtindo muito porque enquanto sigo o professor pelo vídeo, já vou aprendendo técnicas que em um futuro, espero que não muito longínquo, eu vá utilizar em quadros de minha própria autoria.
E ao mesmo tempo eu consigo chegar em um quadro finalizado que eu possa pendurar na parede com alegria (não que meu quadro pavoroso das tulipas não esteja muito belamente pendurado na parede do escritório em um lugar de destaque! O faço para lembrar da emoção que sentia no momento enquanto pintava: abril de 2023, tulipas, Van Gogh, viagem à Holanda, etc… e pra lembrar que a gente sempre precisa fazer o primeiro pra poder melhorar!)
Por fim, tenho gostado de seguir esses tutoriais de pintura porque eles me lembram muito alguns momentos confusos da nossa vida.
No início tudo está estranho, cores misturadas, pontos claro e escuros, nada tem forma e nada faz sentido. Mas seguimos acreditando no processo e seguimos firmes com o objetivo de chegar em algum lugar bom. Quando de repente, nada mais que repentinamente, as cores bagunçadas, as luzes e as sombras começam a fazer sentido e no final acabamos com uma pintura linda em nossas mãos.
Não exatamente como planejávamos, mas especial e perfeita do jeito como tem que ser; para além do que sonhávamos, exatamente como aqueles momentos confusos na nossa vida.
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