Sábado, âncoras e velas
- andggomes
- 14 de fev. de 2024
- 3 min de leitura
Sábado de tarde em Canoas, Rio Grande do Sul. Era calor e o céu se armou escuro pra chuva - algo muito típico dessas bandas do sul do Brasil no alto do verão.
Depois de um churrasco mais que espetacular - falarei disso outrora - resolvi que precisava dar uma passadinha na livraria do shopping. Eu já estava de olho em algumas obras de autores brasileiros; tinha em mente, também, alguns outros títulos que me despertaram curiosidade e que eu fazia questão de ler na minha língua mãe - sim, a saudade de casa bate de formas estranhas, às vezes.
Andei saudosa por algumas ruas do bairro antes de entrar no Barra Shopping de Canoas. Já nos primeiros segundos deu pra confirmar que era final de semana: o shopiscenti estava lotado.
Eu, que amo um passeio e um movimento, fiquei tranquila.
O movimento atrai energia e sou da ideia de que nós somos responsáveis por canalizar essa energia pro lado positivo ou negativo.
Tudo e qualquer coisa nessa vida mundana passageira depende do ponto de referência, como já diria Newton. Felizmente, quem determina essa referência na nossa própria vida somos nós.
Prometi durante a pandemia - depois de ver aeroportos, shoppings, freeways e outros lugares vazios e tristes - que nunca mais reclamaria perante um tanto de furdunço e, até onde consigo lembrar, venho cumprindo bem essa promessa.
Ou seja, mudei meu ponto de vista, minha referência e o mundo ao meu redor mudou. Vamos chamar de bruxaria do bem, que tal?
Enfim, de volta ao sábado, no shopping. Flanei com calma pelo meio da multidão que se juntou no ar condicionado grátis pra fugir do calorão, olhei vitrines com um olhar atento tal como uma onça pintada na beira do rio antes de dar o bote. Comi um açaí sabor Brasil e fui sugada pra dentro da livraria que estava expondo no segundo andar, no meio da muvuca do shopping encontrei um lugar de calmaria.
Nem sei quanto tempo depois, alguns reais trocados por livros - engraçados, intrigantes e espero que muito bons - segui para a segunda livraria do dia. Essa um pouco mais resguardada, loge da multidão, com mais livros e menos marketing. Um bom lugar para quem gosta de caçar. Caçar livros.
Enquanto buscava alguns nomes nas prateleiras escutei um diálogo de um casal que me marcou e inspirou esse texto:
" Ah, eu nunca li assim. Quero começar a ler. Tu me ajuda? - Disse ela, olhando pra ele com cara de admiração.
Claro que sim. - Devolveu ele, a abraçou e adicionou: que tal se escolhêssemos um livro para ler juntos?"
Parei de escutar por aí… não sei dizer onde essa história acabou, achei mais interessante terminar ela com um final feliz na minha imaginação do que esperar e ser atropelada por uma possível realidade menos poética.
Mas esse pequeno ‘pescado’ da vida de alheios já foi suficiente pra me fazer refletir um pouco e relembrar algo que - há tempos - uso pra guiar minha vida: a dicotomia da vela e da âncora.
Devemos nós ser velas à vida daqueles que nos rodeiam, ou seja, ajudá-los a voar. E, por conseguinte, devemos buscar pessoas velas para caminhar conosco na vida, pessoas que nos levem longe. Ao mesmo tempo, precisamos fugir das pessoas âncoras, aquelas que nos fazem estancar na vida.
Uma dicotomia simples e eficiente.
Busque velas, evite ancoras e seja feliz.
Moral da história dessa crônica: com um ponto de referência positivo, alguns livros e boas velas vamos longe na vida.
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Acho!! Ler e ser vela...gostei!!