Nesse relato vou te contar sobre como foi jantar em um restaurante dono de uma Estrela Michelin - o Finnjavel Salonki - na cidade de Helsinki, na Finlândia. Te levo pra dentro dessa experiência espetacular assinada pelo Cheff Tommi Tuominen para te inspirar. Curioso pra saber como foi essa experência? Então vem comigo!
*Atenção, o Ministério dos Famintos Anônimos adverte: você poderá sentir muita, mas muita fome e vontade de viajar ao terminar esse texto.
Na real, sempre achei que estrelas Michelin e super cheffs de cozinha eram coisas valorizadas extremamente demais. Mais marketing e nome do que comida mesmo, sabe?
Acontece que depois de olhar dezenas de episódios de Mastercheff essa minha visão ignorante (leia-se aqui ignorante como aquele que desconhece a existência de algo; que não está a par de alguma coisa) foi sendo substituída por uma curiosidade enorme de experimentar uma comida assinada por um cheff Michelin.
É fato que morando na Califórnia provar uma dessas maravilhas é fácil, afinal temos mais de 80 restaurantes estrelados espalhados pela Califa e ainda mais , o grande The French Laundry - 3 estrelas do Cheff Thomas Keller - fica a menos de uma hora da minha casa. Mas já diz o ditado que Santo de casa não faz milagres, então porque não atravessar o Atlântico e desembarcar em um país nórdico, famoso por ser o País Mais Feliz do Mundo, para ter a minha primeira experiência gastronômica de primeiro mundo assinada por um cheff internacionalmente famoso cujo restaurante carrega o poder dessas famosas estrelinhas Michelin.
Pois então. Semana passada estávamos em Helsinki, a capital da Finlândia e decidimos que era a hora de nos deixar surpreender por uma experiência culinária de primeiro mundo. Dentre os tantos restaurantes estrelados de Helsinki o escolhido da vez foi o Finnjavel Salonki do cheff Tommi Tuominen.
A Experiência:
Quando entramos pela porta do restaurante parecia que havíamos entrado em outra dimensão: a dimensão da excelência. A host, que já nos esperava pronta, nos recebeu com tranquilidade e agilidade. Nos ajudou a tirar os casacos, e os pendurou no closet e sinalizou para acompanhá-la até a nossa mesa.
Entramos no salão privado do Finnjavel Salonki.
A luz é baixa, o ambiente é minimalista e muito íntimo. Apenas 10 mesas ocupam o salão. Ou seja, apenas 10 grupos de pessoas sortudas (e organizadas, afinal é preciso fazer a reserva com uma boa antecedência) por noite tem o prazer de desfrutar da experiência que estávamos prestes a começar.
O ambiente do Finnjavel Salonki - - Foto by AndiGomes
Nossa atendente chega e se apresenta - Carlotta é o nome dela - e sem perder tempo já nos apresenta às opções de Champagne para iniciarmos os trabalhos. Acabamos decidindo pela Ulysse Collin Les Maillons - nunca havia falado dessa maravilha francesa, mas ela foi super recomendada, então só nos restava dizer sim.
Carlotta foi pra mesa de serviço de apoio, lozalizada estrategicamente no canto direito da entrada do restaurante, abriu nossa champanhe, trouxe as taças, nos serviu e se retirou. Ela sabia que era a hora do brinde. Tim-tim! Provamos a tal da Les Maillons - e vou te dizer: Que espetacullons!!! Começamos bem.
Dois goles depois, Carlotta já estava de volta pra nos apresentar as opções de menu.
O Finnjavel Salonki oferece duas opções de menu completos: um five-course menu (menu com cinco pratos) e um eight-course menu (menu com oito pratos). Escolhemos o eight-course menu - obviamente - e, por sugestão da Carlotta, eu decidi não olhar os pratos do cardápio pra ser surpreendida cada vez que uma nova obra de arte culinária assinada pelos maters da cozinha chegasse a minha frente. As expectativas só aumentavam.
Enquanto esperávamos o primeiro prato, Pedro e eu, ainda um pouco intimidados pela ‘grandeza’ do momento trocávamos olhares felizes e curiosos. No início fiquei com uma pequena sensação de ‘minhanossasenhora não quero pagar mico aqui’ e ‘será que vou saber comer essas coisas?’ - acredito que seja uma insegurança natural, afinal não é todo o dia que se janta em um restaurante com estrela Michelin em Helsinki!
Mas essa insegurança acabou no instante que percebi que estávamos passando manteiga no pão (leia-se aqui um pão tradicional finlandês: limpuu, com uma manteiga fresca nível estrela Michelin) usando a faca destinada ao segundo prato do menu, ao invés do passador que chegou com a entrada. O passador de manteiga era tão lindo que achei que era enfeite! Mas enfim, depois dessa relaxamos e percebemos que as pessoas afortunadas das outras nove mesas estavam ali para experienciar a comida e estavam nem aí pra a heresia de talheres que eu e Pedro estávamos fazendo na nossa mesa.
Bom, agora vamos à da estrela da noite: a comida!
Ao total experimentamos 11 pratos diferentes, entre entradas, entre-pratos pratos, pratos principais, pré-sobremesa, sobremesa e pós-sobremesa. O que significa uma comidinha extra pra limpar e preparar o paladar - é pensar em comida em um outro nível, certo? Foi uma verdadeira orgia gastronômica elevada na máxima categoria de sabores, texturas, ingredientes locais, técnicas, um serviço espetacular e muito, mas muito talento pra fazer comida boa.
Dos 11 pratos (mais de 15 diferentes tipos de comida) que provamos preciso destacar os que fizeram meu coração bater mais forte. Uma seleção de small bites (hiukopalat), quatro canapés perfeitamente alinhados servidos em um prato quadrado branco, um em cada ponta acompanhados por o que pareciam mini tacos, mas que eram na verdade uma releitura moderna do tradicional hunter’s bread. O que provei foi uma casquinha de pão feita de purê de alcachofra e recheado com tartar, creme de mushrooms e picles de cogumelos black horn. Era apenas uma mordida e o sabor era tão espetacular quanto está parecendo.
Outro prato que entrou pra história da minha vida foi o Poronkaristys. Um creme de batatas da região da Lapônia acompanhadas de Sauteéd Reindeer - isso mesmo que você leu: rena assada. E assada à perfeição e servido em uma pedra preta aquecida. Indescutivelmente foi o meu prato favorito de todo o menu. Um prato simples, mas robusto - confort food para os finlandeses - riquíssimo em sabor. A textura era maravilhosa, o gosto forte e terroso era contrastado pela delicadeza do purê de batatas que, a cada colherada, mostrava que havia mais surpresinhas no fundo do prato - alguns mini mirtilos e outras 'coisitchas más que não consegui nomear mas que me fizeram comer emocionada.
Entre esses dois extremos tivemos salmão defumado (Kylmasavukala), cordeiro envolto em laminas de repolho (Lammaskaali), peixe branco local com amêndoas (Lasimestarin siika) e muita sobremesa. Sobremesa é mais a praça do Pedro - que amou todas e cada uma delas - mas a favorita unânime do casal foi a torta de blueberry (mirtilos), fruta tradicional na Finlândia.
Alguns pratos do Eight-course Menu do Finnjavel Salonki - Foto by AndiGomes
E depois de duas sobremesas, quando achávamos que a experiência havia acabado, Carlotta surge nos oferecendo um tradicional chá de mirtilos. Mas - vamos combinar - estamos falando de um restaurante Michelin, então um chá não é apenas um chá. Ele vem acompanhado por uma seleção de mini doces Finlandeses para que essa que vos escreve poder dizer, de boca cheia, que foi um Gran Finale!
Vale lembrar que pra cada prato trazido na mesa uma orquestra acontecia: os pratos anteriores eram retirados com rapidez e delicadeza, novos talheres eram posicionados na mesa e todos os pratos eram apresentados com glória: explicação dos ingredientes, sugestão de como comer, por onde iniciar e por vezes até história vinha agregada nos pratos. Sem falar que toda a decoração, talheres, copos e pratos são fabricados localmente por mãos artesãs finlandesas. Se existe forma mais bonita de respeitar e engrandecer os ingredientes locais eu desconheço.
No Finnjavel Salonki provamos sabores poderosos e selvagens do norte da Finlândia casados em uma perfeita harmonia com sabores mais delicados e suaves da cozinha finlandesa.
E assim foi, em uma das cidades mais modernas da Europa, famosa por design, cultura e alta tecnologia, Helsinki nos conquistou pelo caminho mais inteligente: o estômago. Agora consigo ter mais clareza do porquê desse país ser o mais feliz do mundo.
Até hoje estou feliz por termos feito essa escolha! E o meu conselho de amiga pra você, caro leitor, é: se permita. Se permita a pelo menos uma vez na vida viver uma experiência que você tenha curiosidade. Por que a vida é isso: somos as nossas experiências. Daqui nada levaremos e quando acabar, acabou! Então porque não começar a pensar em poder olhar pra trás feliz e sem arrependimentos daquilo que não se fez?!
Obrigada Finnjavel Salonki, cheff Tommi Tuominen & equipe e Helsinki!
Voltaremos com certeza.
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