4 de Abril, Terça feira
Impossível vir a Bélgica sem conhecer Bruges. Certamente você já deve ter escutado isso em alguma roda de conversa de amigos, ou leu em algum blog que Bruges é ponto obrigatório quando turistar na Bélgica.
Como uma boa pessoa do contra que sou, a primeira vez que vim pra Bélgica conheci única e exclusivamente Bruxelas, a iluminada e maravilhosa capital!
Loucura? Sim!
Mas uma loucura consciente. Sabíamos que em menos de dois meses estaríamos de volta na Bélgica e aí sim, dessa vez colocamos um pin bem grande na "Veneza do Norte" e reservamos um bom espaço na agenda pra flanar e descobrir os tesouros escondidos da cidade (e descobrir, também, os tesouros que todo turista que passa por aqui vê).
Chegamos em Bruges no fim do dia da Segunda feira. Fomos direto pro hotel, estamos hospedados no Dukes' Arches Brugge Adults bem no centro da cidade. Escolhemos esse hotel por 3 motivos:
Localização - bem central, o que nos possibilita caminhar bastante e ainda ter uma base se precisar trocar de calçado, deixar casaco ou alguma comprinha.
Café da manhã bem avaliado - de um tempo pra cá tem se tornado muito, mas muito importante reproduzir uma rotina saudável pela manhã.
Boa avaliação no Booking.com.
No fim das contas, esse Hotel nos saiu um bom custo/benefício e eu ficaria aqui de novo em uma próxima vez.
Depois do dia cheio, das cervejas e da quantidade exagerada de Bitterballen de ontem a noite dormir foi um grande ato heróico!
Acordar foi mais heróico ainda! Mas o motivo era inspirador: café da manhã do hotel.
Dessa vez foi salada de frutas e Mc Breakfast feliz, ou seja, sanduba de ovos mexidos com Bacon + café moído na na hora + ovo da Rainha + um folhado doce de caramelo e nozes.
Depois dessa macro refeição nos arrumamos para o primeiro encontro com Bruges: uma caminhada de desbravamento. Ou seja, dar uma volta geral no centro mais turístico e ir se ambientando no clima da cidade pra depois iniciar a sessão de flanar pela cidade.
Flanar, do Francês Flanêr. Caminhar sem destino certo. Andar sem rumo, de modo ocioso, sem coisas com as quais se preocupar.
Assim sendo, acabamos na Grote Markt, a praca mais importante da cidade. Fomos apresentados ao Belfry of Bruges - o Campanário de Bruges - um monumento que remonta ao século XIII, tem 83 metros de altura e é um Patrimônio Mundial da UNESCO.
E, por fim, o Tribunal Provincial, que foi o lar do conselho do condado até 1999, hoje está em reformas para ser aberto ao público e 'explorado' pelo turismo.
Eu devo confessar que me apavorei com a quantidade de gente na cidade! Me pego pensando no fervo que deve ser no verão!
Eu certamente não voltaria nos meses de junho a agosto porque não gosto de muita muvuca quando estou de férias passeando. Acho difícil de apreciar e entender a cidade que se esconde embaixo de camadas e mais camadas de gente, passeios de charrete e barco, pontos turísticos imperdiveis pra uma foto pro Instagram, etc...
Mas claro que o clima quente é muito convidativo, apenas é bom ter em mente que vais ter que dividir a cidade com milhares de pessoas!
Fora de temporada é um termo que me agrada muito. Fora de temporada, quase temporada me agrada ainda mais! É sucesso na certa. Foi assim na Albânia em setembro, Istambul em dezembro, Pensacola em setembro, Hawaii em maio e outubro, etc...
Ok, voltando a Bruges, depois de conhecer a região central pegamos uma rua menor, a Sint- Jacobsstraat e fomos caminhado e descobrindo uma Bruges um pouco mais calma.
Passamos por pontes, casas lindas, lojas tentadoras, e igrejas.
Até que decidimos entrar na Karmelietenkerk - uma igreja carmelita barroca do mosteiro Klooster Van de Ongeschoeide Karmelieten total fora do circuito. Decidimos entrar pelo fato de que sempre é interessante conhecer o interior das igrejas. Cada uma guarda uma história e obras de arte de encher os olhos. E essa não foi diferente!
Empurramos a porta grande da frente e voilá, a igreja estava aberta. Mais uma porta (pra proteger do frio) e entramos.
Adoro visitar igrejas, templos, mesquitas... sempre é uma atmosfera de paz, fé e beleza - não importa a religião. Essa não foge a regra e é lindíssima: um teto azul, um altar muito bem trabalhado com mármore e estátuas - no melhor estilo barroco que encanta qualquer um que entra.
Dentro da igreja tinha apenas um casal sentado nos primeiros bancos e um padre conversando com eles. Em um primeiro momento ficamos meio desconfiados se poderíamos estar ali mesmo. Sentamos, ficamos absorvendo a beleza do lugar, fiz uma oração de agradecimento e segundos depois o padre começou a vir em nossa direção.
Pânico, terror, escuridão! Será que vamos tomar um xingão em holandês?
Com um inglês simples, o Padre nos informou que já havia fechado a porta principal da Igreja porque ao meio dia haveria missa para a comunidade em uma outra igreja dentro do convento. Então, como não queríamos atrapalhar, nos levantamos para ir embora. Mas sair por onde se a porta tava fechada?
Foi aí que o Padre Jacob fez um sinal de 'sigam-me os bons' e seguiu em direção ao lado oposto da saída, pra sacristia. Cruzamos o altar e um alarme tocou. Jacob levantou a mão, como quem diz 'espera aí' e foi desligar o alarme. Pedro e eu já estávamos paralisados e sem entender nada mesmo, entãoseguimos no mesmo lugar. Padre Jacob voltou e nos mostrou a sacristia - toda de madeira escura lapidada, barroca também. Depois, uma capela pequena privada e nesse momento nos demos por conta que ele estava fazendo uma visita guiada com a gente!
Que honra!
Subimos uma escada de carvalho já muito desgastada e o Padre Jacob parou na frente de uma porta que tinha escrito: Habentes Sanctos - Solatio Libros.
Mal sabíamos que esse seria o ápice da visita a uma igreja que entramos sem intenção alguma...
Ele abriu a porta e UAU: a biblioteca do convento com mais de 25.000 livros descansando aqui... lindo e impressionante.
Nessa hora pedi permissão se poderia fotografar e quando ele deu a luz verde registrei.
Padre Jacob nos mostrou algumas relíquias e contou que em outra biblioteca do convento existem obras do século V e VI. Uaaaau de novo.
Depois, seguimos em direção a outra parte do prédio do convento. Uma comunidade de 10 carmelitas ainda vive aqui hoje.
Seguimos por corredores com pinturas bíblicas e obras de arte cristãs de encher os olhos. O tour acabou quando Padre Jacob chegou em uma outra capela que ele iria fazer a missa do meio dia. Ele nos mostrou o caminho de saída pra rua, agradecemos o tempo dele, nos desejamos saúde e seguimos nossas vidas.
Um tour privado que foi um acaso?
Com certeza estávamos no lugar certo, na hora certa e tivemos a sorte de cruzar caminho com o gentil Padre Jacob. Adoramos a experiência!
Saímos por uma porta menor, na mesma rua que entramos e, felizes com nossa sorte. seguimos nosso dia.
É claro que quando visitamos lugares precisamos conhecer os 'must see' da cidade, mas o que me emociona é descobrir a nossa versão da cidade. Nossos pontos turísticos, nosso restaurantes locais. Decidir nossos faboritos, decidir o que é lindo e imperdível por nossa conta. E muitas vezes encontramos lugares que talvez não tenha tanto sentido pra outras pessoas e pra nós é uaaau. Essa experiência na Igreja carmelita foi uma delas.
E falando em experiências únicas, Pedro decidiu que precisava cortar o cabelo e ele procurou um 'Barbeiro Moderno' por aqui e acabamos encontrando uma barbearia de um guri Sírio que mora desde criança na região. Muito querido, cortou as madeixas do meu esposo com mestria e agora sim: seguimos!
Andamos mais um tanto pela cidade, abastecemos nossa água em uma das fontes que achamos pelo caminho e decidimos voltar pro centro. Era hora de sentar no sol, comer algo e tomar uma cerveja.
E agora, ao que importa: comida! Decidimos comer bem na Grote Markt pra aproveitar a aura do movimento, pegar um solzinho e se deliciar vom um menu bem turístico. Porque afinal, estávamos em busca de, claro, Bitterballen! Eles fizeram parte da entrada e em seguida pedimos um dos meu pratos favoritos que descobri aqui na Bélgica (mas o prato é natural da França): Vol au Vent.
Passamos um bom tempo aqui. Depois flanamos mais um pouco pra ajudar na digestão e talvez achar uns souveniers da cidade.
Já era hora de voltar pro nosso hotel pra curtir um tanto dele também. Reservamos um horário no Spa e fomos relaxar!
Bom, gostamos tanto que ficamos mais tempo que o planejado - uh, que grande problema! Hehe - e era dez da noite os dois belezas saíram em busca da janta pela cidade.
Acontece que a cozinha dos restaurantes fecha às 10 da noite e ninguém quis aceitar duas almas famintas por Bitterballen e petiscos holandeses.
E agora? Ficar sem comer? Jantar ar? Dormir demais jejum?
Jamais! Olha quem tá ali na esquina, na frente do Belfry de Bruges: uma carrocinha de comida de rua!
Muahahahahah!!!
"Moço, quero um kit de Bitterballen, um croquette mit brod (com pão) e uma coca!"
$10 euros a menos depois, em um banco da praça central de Bruges, com a luz da lua era possível ver duas criaturas muito felizes jantando.
E assim foi o fim de mais um dia bom por aqui.
Amanhã tem mais! Fiquem bem, se cuidem e até amanhã.
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